Queria que brotasse de meus pés tinta amarela, assim poderia espalhar minhas letras pela grama verde, cintilando ao sol e correndo sem parar. Mas não o vil amarelo ouro, aquele que alimenta a fome dos inocentes e a ganância dos incautos, mas sim o amarelo bebê, aquele dos laços de fitas dos cabelos das menininhas que pulam amarelinha no quintal, sob a brisa das manhãs de primavera.
Queria que dos meus dedos brotassem “Bic’s”, assim eu sairia rindo, pulando e escrevendo pelos corrimãos das escadas, pelos ônibus, pelas paredes, pelas casas e nas ruas suas e minha e por onde quer que eu passasse.
Não, melhor não. Assim viriam os policiais, e eu não me conteria em ver aqueles uniformes impecáveis e sairia escrevendo por entre golas e camisas e calças e botas, bem como por seus carros e armas. Seria presa, e por favor tudo menos uma prisão! Aquelas quatro paredes seriam pequenas demais e acabariam rapidamente com meu estoque de letras e então o que seria de mim?
Queria mesmo é voar, assim de minhas asas sairiam tinta vermelha. Mas não aquele vermelho “vivo”, que tinge de sangue as mãos dos inocentes nas guerras sem sentido (se é que existe alguma guerra com sentido). Mas sim o vermelho rubro, aquele da arara e do boi caprichoso.... escrevia em vermelho para combinar com o céu azul e você conseguir enxergar láaa de longe, e escreveria até me cansar.. mas como me cansar respirando um ar tão alvo e puro?
Preciso terminar, mas como parar se ainda há espacinho branco no papel, tanta tinta na caneta e tanto espaço na sua mente?
Louco? Pode ser... mas leia baixo, pois as folhas vizinhas poderão escutar e chegar nas mãos dos juízes ou dos moços que cuidam das casas onde são internados os sábios e os loucos como você e eu. Lá eles tiram as canetas das nossas mãos porque dizem que nos machucam.
Usaria meus dedos e escreveria com barro ou sangue pelas paredes, e minhas palavras seriam mesmo assim lidas. E sobre as canetas, elas só machucam os olhos de quem não está preparado para ler as verdades dos mundos.
Como li em algum lugar uma frase genial, que não lembro o autor, infelizmente não associo nome a obra, mas mesmo assim, arrisco a reescrever ela agora;
ResponderExcluir"Existem os loucos sérios e os mentalmente equilibrados sorridentes"
Parabéns, muito bom, e vou sonhar também com canetas ao invés de dedos nas minhas mãos, só trocando a marca da mesma por outra melhor, quem sabe um dia, dez Mont Blanc!